O negócio fica interessante agora… Assim que cheguei ao México, dois dias atrás, procurei saber informações sobre as estradas para a Guatemala e, invariavelmente, todos me diziam que o melhor caminho era voltar por Belize e que o caminho por Chetumal era de serra e muito perigoso, depois que se entrava na Guatemala. O acesso era difícil e postos de gasolinas raros, mas, quanto a este item não tenho problema; I have a Big Ass Tank of Gas! Mas, enfim, olhei no meu passaporte e vi que tirei meu visto pra Belize com múltiplas entradas, mas o consulado fez um errinho de leve... quando pus a data da viagem back in December e que estaria viajando na segunda quinzena de janeiro, e o vistodeveria ser de três meses a partir dessa data. Porém, colocaram o visto válido para três meses a partir da data que receberam o passaporte, que foi no dia 5 de dezembro. Resumindo, podeira entrar e sair quantas vezes quisesse até dia 5 de março! ham ham ham... três dias atrás, porque não consegui chegar a Belize antes de 1 de marco, por motivo que mais pro futuro conto; como os energúmenos da companhia de frete me atrasaram a viagem em uma semana.
Bom, voltando ao problema, pensei aqui com minhas minhoquinhas: “puta merda, só tem consulado na Cidade do México, a um caralhão de quilômetros de Playa del Carmen. Se eu for até lá, pego a Transpanamericana que passa por lá, aí não precisaria entrar em Belize...
Mas, como eu sou um retardado mental, resolvi dirigir trocentos quilômetros na direção oposta à cidade do México, com visto vencido, pois, muito embora a permanência que haviam me dado em Belize fosse de 30 dias, esta foi invalidada assim que saí do país, para tentar dar cabeçada na fronteira e entrar de volta em Belize. Além do que, o visto que tinha tirado pro México era de entrada única, como se estivesse em trânsito, logo… se eu não conseguisse entrar em Belize também não conseguiria voltar para o México! Fato esse que só me veio à cabeça quando estava tendo second thoughts sobre tentar cruzar a fronteira. Mas, eu já estava ali, tinha dirigido maior tempo... o que de pior que podia acontecer? Pra algum lugar eles têm que me mandar…hahahaha! Nem que fosse pra PQP... poderia até ficar morando na “Zona Livre” que é a área entre as duas fronteiras onde parei pra comer algo e descansar. (O Terminal – A Volta!)
O tempo não estava bom, amanheceu nublado e logo começou a chuva. Encostei na entrada de um condomínio gigantesco que esta sendo construído para colocar todo o equipamento de chuva. Encontrei um senhor de Minessota e ficamos de papo enquanto me preparava. Logo estava de volta à estrada. Dirigi quase três horas sob a chuva, sozinho, curtindo uma chuvinha refrescante e observando as placas de trânsito. (A mente desocupada faz maravilhaaaass!) E cheguei à conclusão de que o povo mexicano deve ser muito distraído! Calma, eu explico! Perdi a conta de quantas placas eu passei que diziam: “NO SE DISTRAGLIA, SU VIDA ES IMPORTANTE”! Aliás, essa foi uma das coisas mais peculiares que notei; as placas de estrada são assim meio de auto-ajuda, tipo de coisa dos Alcoólicos Anônimos! Vocês devem estar dizendo: “what the hell is he talking about?” Só por causa de um placa e ele já julga os mexicanitos hermanos? Calma! Vocês não me esperam nem molhar o bico.. Aqui vão algumas: “MANEJE CON CALMA, SU FAMILIA TE AGUARDA”; logo depois vêm outras: “RECORDA TE, SU FAMILIA TE AGUARDA, SU VIDA ES MAS IMPORTANTE”, “MAS VELOCIDAD, MAS PELIGROSO” “ NO MANEJE CANSADO” “SU VIDA ES IMPORTANTE” “SU VIDA CAMBIA DESPUES DE UNO ACCIDDENTE” Foram dezenas, e dezenas dessas placas. (hahahaha!) Muito engraçado! Há também outdoors mostrando números de colisões nas estradas mexicanas, mas não vi nenhum policial rodoviário. Acho que gastaram toda a verba mandando fazer aquele monte de placas inúteis!(Acho!)
As estradas estavam boas, tranqüilas, meia dúzia de carros... Antes de chegar à fronteira, passei por um lugar que se chama “Laguna Bakalar” e quase que passei batido. Mas, quando vi as cores da água, tive que parar pra tirar umas fotos. Lembra aquela água azul que mandei nas fotos anteriores? Essa laguna tinha um azul tão claro que em alguns lugares tornava-se branco. (Vejam fotos em anexo) Entrei por uma estradinha de um condomínio de chácaras e casas à beira dessa lagoa, como temos aí no Brasil. Chegando a um ponto mais no alto pra tirar umas fotos, encontrei três Miguelitos que se aproximaram pra tirar fotos também. Eram todos Costariquenhos e um deles, o TICO, é um motoqueiro que tem um clube de motos na Costa Rica. Ele tem até um site: www.ticochoppers.com .
Chegando à fronteira do México, respirei fundo e assim que comecei a falar, a chuva pegou pra valer e um Miguelito me mandou encostar a moto. Parei e fui pra debaixo da varandinha, onde mostrei todos os documentos que tinha, e ele recolheu uma guia da imigração que havia pago em um banco em Playa del Carmen. De lá me mandou pra outro lugar para cancelar os documentos da moto. A funcionária olhou no computador procurando por multas e, assim que averiguou que nada constava, estava eu a caminho! Assim eu pensei. Entretanto, ainda sob uma forte chuva, me mandam passar em outro lugar para a inspeção do exército. Puta quil parillllll ! Nesse ponto eu tava assim… de saco cheio é pouco. Bom, enfim… me liberaram e me mandei pra outra fronteira, mas annnnnntttttttteeeess, uns trinta metros depois, mandaram-me encostar para pulverizar as rodas com algum tipo de inseticida; o mesmo fizeram quando entrei no México. Depois disso, o cara me manda pra um escritorinho onde um agente de Belize faz a papelada da moto; então me mandou pra uma outra casinha, a uns 30m de distância pra fazer o seguro. Sim, em Belize, veículo estrangeiro tem que ter seguro, não os nacionais (informação dada a mim por um local). Depois de pagar a fortunas de BZ$12,00 ou US$6,00, eu me fui, sabendo que o desafio maior ainda me aguardava.
Mas, antes, parei na Zona Livre, que é cheia de comercio, serviços de utilidade pública e restaurantes. Parece um Mercado Central. hahaha. Pedi um camarãozinho empanado e uma cerveja porque também ninguém é de ferro, né?
Chegando à fronteira de Belize, mais uma vez respiro fundo, acreditando que, no final, como já mencionei, tudo acha seu equilíbrio e se resolve. Entrei no prédio e havia dois negões 3x4. Um olhou o passaporte e começou a falar em Creole ou Criolo com o outro. Eu só entendi “três dias”... Aí pensei: “xiiiiiiii, hehehe!!”. Mas, o tempo todo mantive a pose, conversa daqui, conversa dali, expliquei tudo direitinho, aí ele me mandou pra OUUUUUTTTRRROOOO lugar, onde um senhor muito sério começou a perguntar e eu expliquei a história tuuuuuuudddooo de novo. Aí ele me pega o telefone e me liga pro outro lá fora e diz: “Foi você que me mandou esse brasileiro aqui?” E aí disparou a falar criolo. De novo pensei: “FUDEU!!” Bom, eu já estava molhado, sujo pacaralho; a moto imunda, coitadinha, cheia de lama; a bagagem também, então fiquei numa boa… Afinal, ele me mandou voltar para o lugar de onde tinha vindo que ele ia me dar um visto de “Transit”. Olha que novela! Voltei lá e, num instantinho, o cara me carimbou o passaporte e me mandou fazer os documentos da moto. Sim, sim, outro tipo de papel! Lá, a mulher também me olhou todos os documentos. De novo... Perguntou um monte de coisas, de novo… e me liberou a documentação!!! Após, cordialmente me informou que eu tinha 24 horas pra retirar a motocicleta e a minha pessoa do país! Mas, antes disso me perguntou se tinha bagagem. Que pergunta idiota é essa? Claro que tenho, ne suaaaaaaa mongolóide! (tudo aqui, só na minha cabeça, é claro) Entao me mandou sair e trazer minha bagagem toda pra dentro para ser inspecionada! Do You Guys have any fucking idea, how the fuck hard it is to take all that SHIT apart, and then put it back together?” Tava puto! Por dentro, mas tava puto! Fui lá fora… e nesse momento não estava chovendo mais, embora muito abafado por causa da umidade, 200% e eu com calça e jaqueta, com um macacão de chuva por cima. Comecei a me sentir desconfortável por causa da parte física do negócio. Fui lá, tirei tudo, e aí pensei: “Não vou levar tudo não,” Passei a mão na minha mochilona e na outra menor, mas, deixei os pneu, as caixas laterais com máquina fotográfica e o escambal. Levei quase nada… ainda bem, porque, senão teria passado mais raiva. Chegando lá, de volta, dinovo, novamente , again, ela olha pra mim, e olha pras malas, meio que de lado porque conversava com outros agentes, e me pergunta: “Você esta trazendo cigarros ou bebidas?” Eu disse que NÃÃAAAAOOOOO! Então, continuando meio assim que de lado, fez um abaninho com a mão mandando-me ir embora! FILHA DE UMA %^$#%&$$#^%$*^$&^%#&^(*%$%^&#&
Despedi-me e fui tocando em direção à Guatemala. Tomei a Western Highway, ao mesmo tempo em que o sol ia-se pondo. Dirigi uma hora e meia até que parei num lugarzinho pra beber algo, e lá encontrei um grupo de turistas de Boston! Eles me pegaram de papo e após troca de e-mails, segui meu caminho. Mais uns 15 minutos adiante, cheguei à CAPITAL de Belize. Ao contrario do que todos pensam, não é Belize City, é um buraco mais escondido ainda. O nome da cidade é “BELMOPAN” e por informações recebidas da turma de Boston, achei um hotelzinho massa, de uns Chineses. Aliás, eles estão em todos os lugares do mundo porque não cabe mais ninguém no país deles, né? Os únicos estrangeiros vivendo no meio dos nativos em Belize, que eu tenha conhecimento, são os Chineses. Cheio de comerciantes chineses aqui! É um contraste muito grande porque os negros aqui, são negros mesmo… e os outros são caboclos e índios maias.