quinta-feira, 3 de maio de 2007

Dia 2 e 3 de maio

Equador, dia 2 de maio


Saí cedo e não tive problema nenhum na fronteira. No lado da Colômbia só cancelaram minha permissão pra moto e depois me carimbaram o passaporte, em três minutos estava a caminho do Equador. Lá também foi a coisa mais fácil. Não havia praticamente ninguém e um senhor, muito educado, vestido de terno e gravata, fez meus papéis para a moto enquanto eu ia pegar o carimbo da imigração a uns 10 metros de distância. Depois que preenchi o formulário, peguei meu carimbo e retornei à parte da Aduana, onde o senhor já me entregou tudo prontinho.












O dia havia começado bem... bem demais... alguma coisa tinha que dar errado! Primeiramente o computador de bordo me acusa um problema com o sistema ABS de freios e, acreditem, nessas estradas aqui, o que qualquer um menos quer é ter problemas com os freios. Mas, fiz uns testes e pareciam estar funcionando relativamente bem. Depois o que se passou foi o seguinte: não pus combustível no lado da Colômbia porque já sabia que no Equador era bem mais barato, metade do preço praticamente. E aí, novamente meu painel pedia por combustível, 30 milhas era o que me restava... Só que ao entrar no Equador passei por dois postos de gasolina, que não tinham gasolina! Parece que a galera toda de Ipiales vem aqui abastecer. Fui andando, não tinha outra opção; passei por um terceiro posto que também não tinha gasolina! Puta merda, só me faltava essa! Lembrei do Vanzin novamente… he would be freaking out by now! (Deixa eu ser justo, ele já foi mais neurótico, hoje acredito que ta mais calminho.) Pra minha sorte, faltando 10 milhas pra acabar o combustível... acheiiiiiiii! Abasteci e, como ainda era cedo, parei pra tomar meu café da manhã. Foi só então que eu descobri o quanto as coisas são baratas aqui no Equador; uma senhora vendia um balde de amora, não uma vasilhinha, um balde por 1 doleta.
Amoritas


Waw! Só pra dar um outro exemplo, os restaurantezinhos por aqui vendem um café da manhã completo com ovos, torradas, pão, queijo, leite e café por 1,50 dólares. PS: dólar é a moeda nacional, tá? Um almoço custa em torno de 1,75. Ontem mesmo comprei um jantar com arroz, lentilhas, batatas fritas, frango assado, sopa de vegetais com carne e um suco de laranja por 1,7. Quase me senti culpado! A senhora que me atendia me olhou como se fosse de um ET quando eu dei a ela e incrível quantia de 3 dólares e disse que não precisava de troco.



Bom, as estradas não são boas; são excelentes! Perfeitas, tudo bem pintadinho e sem buracos. Passei por uns dez pedágios e paguei 20 centavos de dólar em cada um, hahaha, parece aí no Brasil, né?
PS: pra quem for dirigir na Colômbia, também há vários pedágios, só que moto não paga.
Bem, segui guiando e apreciando a paisagem. Aqui também é tudo muito bonito e, com as estradas vazias e boas, cheguei a Quito antes do almoço. Resolvi passar direto porque estava descansado e animado para guiar, apesar das luzes do freio estarem o tempo todo piscando diante dos meus olhos.

Quito

















A bela Catedral
de Quito




























Não ia parar em Quito não, até que avistei uma placa sinalizando uma saída ao Centro Histórico e, ao olhar pra minha direita, vi aquele monte de construções coloniais que me lembraram alguns lugares no Brasil. Muito bonito ver um centro tão bem conservado, no meio de uma cidade tão grande e cheia de modernidades e problemas típicos de cidade grande. Muito Bonito! Também já me chamava a atenção o número de indígenas perambulando pela cidade. Toquei pelas avenidas centrais e perimetrais da cidade até que me achei perdido e resolvi parar em um posto para pedir informação. Então se aproximou um rapaz, que vinha de bicicleta, e começou a conversar comigo.


Juan Carlos



Bem, esse cara é o Juan Carlos, um equatoriano que roda pra tudo que é lugar de bicicleta. Já fez oito paises da Europa e já foi daqui até o Ushuaia em sua bike, sozinho; já tem mais de 34 mil km rodados. Deu-me várias dicas sobre os caminhos que deveria tomar dentro do Equador e também sobre a fronteira com o Peru, que parece ser um pouquinho perigoso. Trocamos e-mails e ele já me enviou uma lista de um monte de “casas de ciclistas” onde se pode conseguir abrigo e ajuda em todos os paises daqui para baixo. Valeu, Juan Carlos!!!!
Tomei então a carretera em direção a MACHACHI. Começou a chover dinovo,! E chove, e chove até que às cinco horas da tarde resolvi procurar um lugarzinho pra me encostar. Só uma hora depois cheguei a RIO BAMBA, e, logo na entrada da cidade, avistei esse hotelzinho e resolvi parar pra perguntar o preço: US$7,00 por noite! Muito bonitinho, limpo e muito confortável. Os dois rapazes e uma moça, funcionários daqui, foram tão gentis e amigáveis que eu ia acabar ficando por aqui de todo jeito. Não me deixaram nem carregar minhas próprias malas para o quarto, já tomaram conta do pedaço e, à medida que eu ia desamarrando tudo da moto, já iam pegando e levando acima. Banho, jantar de U$1,75 e cama!! ZZZZZZZZZZ.
O plano original era de hoje, dia 3 de maio, sair em direção à fronteira com o Peru, porém, uns panfletos no lobby do hotel me informavam sobre o “NEVADO CHIMBORAZO”, um vulcão a mais ou menos uns 40 minutos daqui, que é um dos maiores picos do Planeta, com 6.310 m de altura. Além disso, fiquei sabendo que eu poderia chegar até o segundo refúgio na minha moto, e que de lá poderia escalar, com guias, até o cume. Mas eu não tenho equipamento adequado pra uma subida dessa, na neve ainda, né?
Antes de qualquer coisa, fui ler o manual da moto pra ver quais as implicações do problema com o ABS. Bom, descobri que era um WARNING geral e que poderia significar algumas coisas diferentes, uma delas era PASTILHAS DE FREIO! Desci até a moto e…… BATATA, minhas pastilhas traseiras haviam se acabado! Não estavam no final não, já haviam se acabado! Mas, como um motoqueiro prevenido vale por dois, saquei minhas ferramentas e um jogo de pastilhas de freio que trazia comigo e lá vou eu fuçar na moto. Pensei! Putz... nunca desmontei nada nessa moto, tudo é computadorizado ou eletrônico, mas eu não posso andar com os freios assim, especialmente porque nessa moto não se consegue usar só o freio da frente; o sistema integral de frenagem ativa automaticamente 70% o do dianteiro e 30% do traseiro, ao se acionar a alavanca do freio dianteiro. Eu teria que tentar desmontar de todo jeito, porque, mesmo se não conseguisse trocar tudo direitinho, eu teria que tirar os cilindros para não danificar os discos. Fuça de lá, fuça de cá, e o número de parafusos começa a aumentar… Vixi Maria! Quando consegui soltar o cilindro e tirar as pastilhas velhas, cai uma peça de dentro do cilindro…. Puta, fudeu! Mexe, olha, aperta, enfia, tenta outra vez até que descobrir onde a bendita ia. No final das contas, consegui montar tudo, sem deixar nenhuma peça sobrando, a luz do ABS se apagou e tudo voltou ao normal! Com os freios arrumados, resolvi então sair pra ver qual era a desse vulcão.
San Juan, Equador


A turma do ônibus parece motivada...


























A precisão do arquiteto desta sacada
é quase igual a dos construtores Incas


No caminho, passei por alguns vilarejozinhos, e em todo o meu percurso avistei principalmente indígenas incas, todos com seu ponchos e chapéus típicos. É muito interessante essa região: Rio Bamba é uma cidade com mais ou menos 400.000 habitantes, onde há muito comércio e uma universidade que tem cursos em diversas áreas (também dei uma rodada pelo campus para conhecer). Por outro lado, se você dirigir por somente 20 minutos para fora, você pode chegar a um lugar selvagem e parado no tempo, onde as indígenas carregam seus filhos em trouxas, jovens e crianças carregam sacos imensos com milho e outros vegetais, e senhores e senhoras tocam suas ovelhas e llamas, sossegadamente, pelas estradinhas de terra.


Tricotar e andar (time is money).



Chegando à entrada do vulcão, estava tudo nublado, muito frio e chovendo também. O guarda me aconselhou a voltar outro dia porque hoje não ia conseguir ver nada. Anyway! Voltei, mas alguns quilômetros adiante, em San Juan, avistei uma estradinha de terra que subia pelas montanhas e ia em direção a Guaranda. Lá vou eu, montanha acima, tudo que se avistava eram casinhas e algumas áreas cultivadas. Indígenas de monte!

















O curioso e que eles nao dao muita bola pra ninguem nao… male male te olham e alguns nem mesmo cumprimentam de volta! Believe me, I tried! Mas tem sempre os mais simpaticos; na minha jornada em direcao ao NADA, a mais de 4000m de altura me deparei com uma senhora que vinha tocando um bando de Ovelhas, eu parei e desliguei a moto para esperar ela passar, nao queria que o barulho assustasse e perturbasse o caminho das bichinhas.

Alto pacas...


A estrada para o nada é muito bonita























Foi só então que me dei conta do silencio e da serenidade do local. A senhora trocou meia dúzia de palavras comigo e se foi. E eu? Bom, fiquei ali parado por mais uns 15 minutos, só olhando pro nada, pensando... acho que em nada também, até a hora em que resolvi regressar a Rio Bamba pra comer e terminar de escrever. Valeu a pena mesmo, apesar de eu não ter conseguido ir ao CHIMBORAZO. Tenho tudo programado pra sair amanhã cedo em direção ao Peru, mas se o dia estiver bonito (o que eu duvido) vou estender minha estada para mais um dia. Boa noite! ZZZZZZZZ. Ao acordar, arrumei tudo e desci para empacotar a moto, e lá estavam me esperando os três rapazinhos do hotel, de câmera na mão porque queriam tirar fotos comigo e da moto.





Fizeram a maior farra, subiram, puseram luvas, capacete e gastaram um filme inteiro, foi muito divertido. Paguei os 14 dólares do hotel e acabei dando 21 a eles, 7 pra cada para que pudessem fazer o que fosse… Só faltaram me beijar!!! Epaaaaa, perai, aqui não, João!!! hehehe. Saí lá pelas 9 e peguei uma estrada pela serra em direção a Guayaquil, porque o outro caminho para o Peru era mais longo e tinha muito mais montanhas. Aliás, deixa eu falar, essa estradinha até o término da serra foi horrorosa… muito buraco, frio e chuva o tempo todo, mas atravessei em um pedaço só. O que pra mim foi surpresa porque todas as outras estradas do Equador foram perfeitas. Bom, passando essa parte ruim, tudo ficou mais tranquilo, estava com disposicao e resolvi tocar ate a fronteira, o plano inicial era de dormir no Equador e amanhã, pela manhã, cruzar…mas, por algum motivo eu tava cheio de energia e, depois de dirigir 10 horas, e resolvi cruzar a fronteira. O lugar é uma mufumba… do lado do Equador já começou a confusão: aquele monte de gente querendo ajudar pra tirar uma graninha e eu, muito gentilmente, recusei a ajuda de todos; cancelei meus papéis, carimbei meu passaporte e me dirigi pela cidade de HUAQUITAS em direção ao Peru. Que loucura, devia haver mais de 10.000 pessoas e 1.000.000 de camelos em ruinhas estreitinhas, mas, no final das contas resolvi tudo em questão de meia hora e tomei rumo. Amanhã continuo a historia… Bjs a todos, fui.