quarta-feira, 9 de maio de 2007

De 4 a 9 de maio

De 4 a 9 de maio















Peru, dia 4 de maio
Já eram mais de 5 da tarde quando peguei a estrada em direção à primeira cidade aqui no Peru, chamada Tumbes. É impressionante como a paisagem muda drasticamente assim que se cruza a fronteira: de um lado, no Equador, tudo muito verdinho e chovendo sempre... vinte minutos de estrada chego ao litoral peruano, tudo começa a ficar marrom e mais marrom, e marrom ficou por muiiiiito tempo. Passando por Tumbes, pedi umas informações e resolvi tocar mais um pouquinho pra comer alguma besteira. Parei em um quiosque frente ao mar e duas meninas e um senhor me pegaram de papo. Aí começou a bater o cansaço.














Os sol estava se pondo no Oceano Pacífico, tirei umas fotinhos e resolvi procurar uma hospedagem por ali mesmo. O lugar se chamava ZORRITOS e encontrei um hotel, o COSTA AZUL, pertencente a um camarada chamado Juan Carlos e lá fui muito bem recebido.





































O hotel ficava na areia da praia e tinha piscina, internet e tudo mais, porém, foi só banho, jantar, e cama. No dia seguinte, tomei rumo sul, e só então compreendi como toda a costa do Peru é desértica. Passei por Cabo Blanco, uma cidadezinha pequenina onde avistei turistas e onde a prática do surf é o motivo principal para estes estarem ali. Não parei e, de Cabo Blanco em diante, só vi areia, MUITO vento, e nada de vegetação, nem mesmo uma graminha sequer. Só para vocês terem uma idéia, de ZORRITOS até NAZCA (ao sul de Lima) são mais ou menos 1.400 km de NADA, de deserto puro. Depressão total! Dirigi quase o dia todo, passei por cada lugarzinho que dava medo até de olhar. Muita sujeira, muito lixo, muita gente mal encarada. Todas as cidadelas FEDEM muito e são muito sujas. Não sei nem de onde sai tanto lixo. Cheguei a uma cidade um pouquinho maior que se chamava PIURA e, ao abastecer, olhei meu pneu traseiro e vi que estava mais do que no talo… Com os arames já à mostra, decidi que não conseguiria chegar a Lima para ir a uma concessionária da BMW e trocar os pneus, principalmente porque de PIURA a CHICLAYO são 260 km de um deserto chamado “deserto de OSMO” (se nao me engano) Essa informação recebi de um curioso que no posto de gasolina olhava a moto. What are you talking about? Não entendi, porque até agora tudo era deserto... Então ele me informou que estes eram 260 km sem nada no caminho, somente a estrada e mais nada. E a idéia de ter um pneu estourado no meio do deserto não me agradava muito.

Aridez de OSMO ( que quer dizer Osmonte de areia)
































Então resolvi ir a um lugar onde se “cambiavam las llantas” (pneus). Achei uma loja da Goodyear. Ao entrar, logo uns 10 funcionários se aproximaram e ficaram a observar a moto e a fazer aquelas perguntinhas básicas que vocês já sabem. O gerente, logo de cara, me disse não poderem trocar porque não tinham as ferramentas pra soltar a roda. Mas, como eu havia dito, um motoqueiro prevenido vale por dois: desmontei minhas malas e saquei as chaves que servem nos parafusos. Obs.: todos os parafusos da BMW são em formato de estrela, chaves comuns não servem. Bom, havia umas cinco pessoas trabalhando na moto, um soltou os parafusos enquanto os outros aguardavam a saída da roda... UFA… SIMPLERRIMO! Eu achei que teria que tirar o disco, cilindro e etc, mas esse não foi o caso, pois, as peças ficam presas ao chassi e ao cardan que, pelo fato de ser unilateral e não ter corrente, foi só soltar os cinco parafusos e a roda saiu.
Tinha tanta gente querendo ajudar que eu achei que nunca iam terminar porque todos queriam pôr a mão. Resultado, em 10 minutos as rodas estavam colocadas e apertadas e, depois de pagar a incrível quantia de quatro soles (ou seja: 1,30 dólares!) me fui. Não se enganem com o preço muito baixo, as coisas aqui no Peru não são tão baratas assim, só acho que o gerente da loja ficou tão empolgado que me cobrou um preço simbólico. (Imagino...) Obs.: A moeda nacional no Peru se chama “Sol”, cuja cotação é de 3,15 em relação ao dólar.
Então me fui, tomei a carretera para Chiclayo, e tome areia… um vento que soprava da minha direita, do oceano, fazia com que tivesse que pôr minha moto sempre inclinada para a direita para que conseguisse caminhar reto, o que aumentou o consumo de combustível em mais de 35%, segundo meus cálculos. Vento fortíssimo, sol, areia pacas e muito lixo à beira das estradas. Depois de pilotar quase o dia todo em uma reta que não tinha mais fim, em um deserto que não tinha mais fim, passando por cortiços e mais cortiços (porque não se pode chamar aquilo de cidades ou mesmo vilas), cheguei, já à noite, a uma cidade chamada TRUJILLO. Essa sim era uma cidade maior e com muita gente perambulando na rua. Bem no centro da cidade encontrei um hotelzinho e ... banho, barba e saí para comer.
Ao retornar ao hotel, conheci um casal de senhores ingleses que vivem na Austrália. Eles me contaram que um grupo de policiais havia meio que confiscado a carteira de motorista deles, caso não pagassem a quantia de 340 soles (mais ou menos 110 dólares), afirmando que eles estavam acima do limite de velocidade, muito embora não tivessem radar e estivessem em uma curva, bem na entrada de uma cidadezinha (favelinha diria eu). Receberam o dinheiro e não deram nenhum tipo de comprovante nem nada…. É lógico que foi pro bolso!!! No dia seguinte, levantei cedo e tomei o rumo de Lima que ainda estava longe pra burro. Umas três horas depois, passo por um pedágio (moto não paga...) e, do outro lado das guaritas, um policial faz sinal pra eu parar. Começa a perguntar de onde sou, de onde venho, quanto vale a moto, quanto corre a moto, etc e tal. NUNCA pediu pra ver nenhum documento. Então me pede pra dar uma voltinha na moto. Ahhh? Nem pensar! - eu pensei, mas muito gentilmente me recusei e disse que ficava pra próxima. Imagina só: toda minha bagagem, com câmera, laptop, ferramentas e etc. Imagina se esse maluco resolve sumir? Que eu ia fazer? Nem pensar!!! Já estava com a pulga atrás da orelha por causa da história dos ingleses com os policiais e também porque o Juan Carlos havia me dito pra ficar espertos com eles. Rapidinho dei linha na pipa e me fui!
DESERTO, DESERTO, AREIA, VENTO, LIXO, CORTICOS, MAIS LIXO, MAIS DESERTO. Ao me aproximar da cidadela de Barranca, encontrei as ruínas da FORTALEZA DE PARAMONGA, que foi construída pela civilização CHIMU e que era usada para estudos de Astrologia. Parei e da estrada mesmo tirei umas fotinhos.

















Assim que subi na moto, uns 400 m depois, havia uma curva e eu estava ainda muito devagar, tentando ajeitar os fones de ouvido metendo as mãos por dentro do capacete e lá estavam eles…. Os tais policiais! Um senhor fez sinal pra eu parar; o oficial PERALTA (olha que nome!) E logo já veio dizendo que eu estava acima do limite de velocidade, me perguntou de onde era, de onde eu vinha, pra onde eu ia e eu com muita calma fui respondendo a tudo. Pediu minha carteira de motorista e ficou com ela na mão; abriu um livrinho me mostrando o preço de uma multa por excesso de velocidade: 340 soles! (Exatamente a quantia que o casal de ingleses pagou) Mas, por eu ser muito educado e um cavalheiro, ele poderia quebrar meu galho e eu pagaria só a metade. PS: no livrinho havia também uma coluna com todas as multas com 50% de desconto. Mostrou o quanto teria que pagar pra poderem liberar minha carteira. Putz… não sei o que me deu e eu comecei a falar: “Meu amigo, eu estou aqui viajando numa boa, não fiz nada de errado e estou escrevendo uma historia sobre essa viagem. Até agora, só tenho coisas boas a contar e gostaria muito poder escrever coisas boas sobre o país e sobre as pessoas daqui.” Disse também que eu não carregava dinheiro comigo, só cartão e que eu pagaria a multa por inteiro junto ao Departamento de Trânsito, em Lima. Ele então me perguntou se não poderíamos ir até um posto de gasolina e, com meu cartão, eu poria uns galões de combustível no carro patrulha. Eu logo disse que NÃO, que preferiria pagar a multa em Lima. Ele esboçou novamente a insinuação que poderia reter minha carteira de motorista e aí eu desandei a falar: “O senhor pensa que não sei de nada? Este documento é um documento emitido pelo Governo Americano pertencente a mim, e sei que o senhor não pode retê-lo, caso o faça, eu vou embora e, em alguns dias, tenho certeza de que vou tê-lo de volta. Aí será o senhor quem terá que se explicar. Se quiser me multar, por favor faça-o, mas, como eu não estava fazendo nada errado, não estava correndo e vocês nem mesmo têm radar, não acho que seja justo. E o senhor parece ser um “cavallero” e estou certo de que não tem a intenção de me prejudicar.” Putz… eu estava fumegando de raiva, mas penso não ter deixado transparecer muito. Acho que ele não esperava pela reação e meio que perdeu o rebolado; devolveu minha carteira e me desejou boa viagem. Ainda tentou me passar um sermãozinho, dizendo pra eu ser mais cauteloso, bla, bla, bla.. mas nem mesmo esperei ele terminar e já disse: “Hasta la vista!” e me fui.
PQP, estava totalmente decepcionado com o Peru (O país Peru, ta? Pra vocês com a mente poluída). Estava tão puto que pensei em nem passar por CUSCO para visitar Machu Pichu. Havia guiado mais de 1000 km por desertos, favelas e lixo, e ainda vem um filho da puta tentar arrancar dinheiro de mim? Vai se fuder!!! Parei uns 2 km depois quando notei que meus fones de ouvido estavam pendurados quase arrastando no chão; tinha saído com tanta pressa e raiva que nem havia percebido. Então, coloquei ENYA pra dar uma relaxada e logo, logo estava tranqüilo. Finalmente cheguei a LIMA... assustador!!! Cortiços e mais cortiços, sujeira, fedor etc… Resolvi passar direto, mas, quando cheguei à parte mais ao sul da cidade, resolvi sair da rodovia e entrar para abastecer. Entao…. tcham tcham tcham tcham... por sorte, havia entrado na parte boa da cidade, que alívio, parecia estar em outro mundo! Em questão de segundos, saí do LIXÃO e entrei numa parte da cidade onde tudo era LINDO: avenidas, casas, árvores, flores, cafés, restaurantes, lojas tudo do mais altíssimo nível de qualidade e refinamento. Bonito messsssmo!!! Ainda estava meio em choque porque não esperava tal melhora e por ali mesmo resolvi achar um hotelzinho e ficar. Se algum de vocês, um dia resolver vir a Lima, fiquem na região sul (MIRAFLORES, SURQUILLO e SURCO). Vale a pena!
Depois de me instalar e tomar banho, fui caminhando por algumas quadras, apreciando tudo que via. Achei uma pizzaria de uns argentinos e pedi logo uma grande pra levar para o hotel. Acontece que a filha dos donos, a Maria Paula, foi quem me atendeu e me pegou de papo por mais de uma hora. Ela me deu várias dicas de onde ir e o que fazer na cidade. Lima não é muito barata não, dei uma olhada nos restaurantes e cafés e tudo é bem caro, embora todos apresentem qualidade altíssima, são bem modernos e sofisticados. Valeu a pena eu ter entrado por lá. Retornei ao Hotel e comi pizza assistindo à GLOBO, isso mesmo, Globo! Vi os gols das finais dos campeonatos estaduais e também o Jornal da Globo que mostrou um monte de merda que estava acontecendo em São Paulo, durante um show dos Racionais, na praça da Sé, onde a galera quebrou tudo!
No dia seguinte, fui procurar a concessionária da BMW pra trocar óleo, filtros e provavelmente meu pneu dianteiro, muito embora não estivesse tão gasto. Sei que só vou poder trocar numa autorizada, pois, é bem mais complicado que o traseiro. Localizei-me no mapa e encontrei uma super concessionária, gigante, com dezenas de carros e funcionários. Mas, eles não tinham em estoque tudo que precisavam (filtros de óleo e ar) e demoraria em torno de 10 dias para receberem via correio. NEM PENSAR! Putz… vou ter que ir até La Paz, na Bolívia? E se eu chegar lá e eles não tiverem as peças também? Bom, vou tentar passar um e-mail pro Bill, o gerente da concessionária onde eu comprei a moto, pra ver se ele pode ligar de lá (ou mesmo mandar as peças) para que, quando eu chegar a La Paz, não tenha que esperar para fazer uma simples troca de óleo e filtros, né? Bom saí de lá ainda era manhã e resolvi pegar a estrada em direção a NAZCA. Alguém aí não ouviu falar nas “Linhas de Naszca?”

El Colibri










Bom, são desenhos feitos nas areias do deserto por uma civilização que precedeu a civilização INCA. Ninguém sabe ao certo a procedência dessa civilização ou o significado das linhas nem as datas corretas delas; acreditam ter sido feitas entre 400 a.c e 800 d.c , e ocupam uma região de mais de 500 km. Esses desenhos ainda estão quase intactos pelo simples fato de NAO CHOVER- nunca - por aqui, nessa parte do país… entre a cordilheira e o oceano. Aliás, tirei nesses quase 1.500 km, desde a fronteira até Nazca, muito poucas fotos, porque uma seria a cópia da outra! DESERTO, DESERTO E MAIS DESERTO.
Ao chegar a Nazca, vi três motoqueiros encostando em um hotel e resolvi ficar por lá também. Assim que entrei, eles se apresentaram e por ali mesmo, ao lado da piscina ficamos de papo. Dois deles, o Adam e o …(ESQUECI) são turistas ingleses que contrataram o outro camarada, o holandês, o (ta bom, esqueci também), que vive em AREQUIPES, uma outra cidade mais ao sul, e que vive de organizar viagens de moto por toda a América do Sul. Ele já levou até grupos daqui ao Rio de Janeiro, vive disso e sua clientela é, principalmente, européia; o que me deu uma ÓTIMA IDÉIA: fazer o mesmo no Brasil e, através da INTERNET, buscar clientes europeus! Quem sabe, né? Ficamos ali, de papo, e depois, mais tarde, nós nos reunimos e caminhamos até a praça central para jantarmos. Que galera gente fina!!!!!




















Convidaram-me para ir com eles pela manhã fazer um vôo para ver as “linhas de Naszca”. Hesitei um pouquinho, mas, depois aceitei. Custa 40 doletas, mas vou passar por Nazca e não ver as Linhas de Nazca? Não fazia sentido nenhum!










































Retornamos ao hotel e ainda ficamos de papo furado por um tempão, até que pedi arrego e fui dormir, afinal havia pilotado um monte naquele dia. Oito da matina, breakfast, e às nove vieram nos buscar para levarem-nos ao aeroporto. O vôo dura em torno de meia hora somente, mas, tivemos a chance de tirar fotos e curtir. Programinha bem rápido e bom pra gringo mesmo; as linhas de Nazca se estendem por centenas de quilômetros, mas só nos mostram as que estão próximas da cidade e as que conseguiram identificar; há muitos outros desenhos que não fazem nem idéia do que sejam.


































Chegamos ao hotel ainda era de manhã e eu resolvi pegar a estrada em direção a CUSCO. Sabia que não ia conseguir percorrer os seiscentos e alguns quilômetros em uma tarde, na verdade nem mesmo em um dia, porque as curvas da cordilheira não permitem.













Empacotei tudo, despedi da galera e me fui! Peguei a estrada em direção a PUQUIO e, em um trecho de 70 km, subi do nível do mar até 4.600 metros de altitude, com tantas curvas que quase se podia ler a placa da moto... e muita poeira!

Parece uma cidadezinha feliz










Ahhh, observação: As estradas aqui são, de uma forma geral, muito boas mesmo. Até chegar a Nazca, praticamente retas e muito poucas curvas e subidas, mas também tenho que dizer que o número de veículos circulantes e ínfimo. Devo ter cruzado com aproximadamente duas centenas de veículos, no máximo, em quase 1500 km de estradas. Voltando ao assunto, quase chegando ao topo da serra, parei numa biboquinha onde comprei um pedaço de bolo de milho, um queijo fresco e água. Por tudo paguei 6 Soles (2 doletas) e fiquei conversando com um senhor (Hidalgo) que queria porque queria saber porque eu não tinha esposa e filhos! HAHAHA, nem tentei explicar porque ele não ia entender mesmo! E quando eu ia caminhando ele me disse que era pra eu retornar daqui a um tempo e trazer meus filhos pra ele conhecer. Hehehe Bem, uns 20 minutos depois, ao me aproximar do alto da cordilheira, em uma área que se chama “Pampas de Gallera”, em um planaltão imenso, onde o marrom do deserto começa a se tornar verde, avistei uma graminha, e mais outras e outras...

















é nóis nos "Pampas"


Quando cheguei à parte mais alta, as curvas se acabaram e tudo ficou plano e a vida resurgiu! Pastos, lagos, pássaros, flores e muitas, mas muitas llamas! Parei e comecei a caminhar em direção a esses animais tão simpáticos. Pareciam não se incomodar com minha presença, mas também não deixaram que me aproximasse mais de uns 10 metros.


Isso é que é ovelha...













A vegetação ainda era tímida em cor e em tamanho, mas já tomava conta da paisagem. Água!!! Substância essa que não avistava havia mais de 1600 km! Então, uns 20 km depois de iniciar meu percurso nos Pampas de Gallera , passei por um portal mágico para um outro mundo, assim que comecei a descer pelo outro lado da cordilheira!!!! WAW, WAW, WAW, WAW, WAW!!! E só o que consigo dizer pra descrever a sensação que sentia naquele momento. Foi uma das emoções mais impressionantes que já senti: passar de um dos lugares mais secos do planeta, mais inóspitos, onde não se avistava nem um bichinho, nem uma flor sequer; para um “mundo” cheio de vida em questão de MINUTOS!!! WAW, WAW, WAW!!!! Era tudo que conseguia pensar. Este lado da cordilheira é de encher os olhos de qualquer um! Especialmente de quem vinha viajando há quatro dias por um deserto que não parecia ter fim! Foi como se tivesse me conectado a uma fonte de energia infinda e, em segundos, recarregado minha bateria interna! Quase como a sensação que tive ao chegar a TIKAL na Guatemala.





























Todos os sentimentos ruins e de desânimo que havia tido em quase todo o meu trajeto pelo país, de repente, “não mais que de repente”, pareciam uma memória distante agora! WAW,WAW, WAW!!! Fazia frio, é claro, a 4600m só podia fazer frio. Logo,logo, parei a moto e me sentei à beira do penhasco e por ali fiquei estático, atônito por um tempão! O som dos diversos pássaros e do vento eram os únicos ali, até aquele momento. Carros? Nem sinal! De vez em nunca passava um!
O tráfego intenso já justifica
a duplicação da pista.















Um gavião planava, estático, por vários minutos, só procurando uma presa lá embaixo, muito lá embaixo...














Tirei minha câmera e fiquei ali observando o que ia acontecer; somente uns 10 minutos depois ele deu aquele mergulho e desapareceu da minha vista. Se pegou algo? Não sei, mas valeu a pena ficar ali só de bobeira, escutando os animais e vendo tanto verde, milhões, bilhões de margaridas amarelas, árvores, e muita VIDA, até onde a vista alcançava!












Desde o início do Pampas de Gallera, nas montanhas mais altas, já se avistava neve e, durante a descida, esta começa a fazer parte de minha jornada por uns minutinhos. A princípio começa a cair gelo, pedrinhas bem secas de gelo, que depois viraram floquinhos pequenos de neve e depois uma chuva com gelo, até que virou somente chuva, à medida que fui baixando. Mas, logo cessou e prossegui meu caminho até CHALUANCA, um vilarejozinho a mais ou menos uns 2600 m de altitude, onde me hospedei no hotel PLAZA... Ah, nada a ver com o Plaza de New York.













Ao chegar, encontrei um casal de ingleses que também viajava de moto. Eles estavam indo em direção oposta a minha, já haviam passado por Cusco e tudo mais. Jantamos juntos e peguei com eles várias dicas sobre a Bolívia e a Argentina. Ele, Peter, está viajando há quase seis meses e já foi até o Ushuaia. Sua namorada está com ele há somente três semanas e já vai ter que retornar a Londres em alguns dias.












Jantamos e demos uma caminhadinha pela cidade. Na praça central, onde há uma estátua de Simon Bolivar, um grupo de meninos brincava e rolava no chão, com uma felicidade que há muito não via.






















Todos estavam especialmente imundos! Queria tirar uma foto com eles, mas, estavam tão excitados com a fotografia que o máximo que conseguir fazer foi tirar uma foto deles e tive que quase sair correndo porque, depois, me cercaram e queriam ver a foto de todo jeito! Puxa daqui, empurra dali e quase me arrancaram a câmera da mão. Llindos, todos eles!












Cinco minutos depois conseguir desagarrá-los de meu pescoço e observei os adultos rindo e sorrindo pra mim. Que legal!!! Retornamos à porta do hotel e logo, logo nos retiramos. Essa manhã, arrumei tudo e fui tomar um café no restaurantezinho abaixo do hotel, onde conheci um senhor que me falou de umas ruínas, maiores que Machu Pichu, às quais só se chega caminhando pelas montanhas e tem-se que partir de um vilarejo chamado SAN PEDRO DE CACHORA. Supostamente, essas ruínas são três vezes maiores que as de Machu Pichu, e pouca gente as conhece. São mais ou menos uns 34 km de caminhada pelas montanhas nevadas até CHOQUEQUIRAO ou CHOKEQ’IRAW, a cidade que foi descoberta e virou rota para turistas desde 1992, não há muito tempo, mas que não é tão visitada devido à dificuldade de acesso. Bom, tomei meu cafezinho e saí em direção a ABANCAY, a estrada de Chaluanca ate Abancay e - uma coisa maravilhosa - são mais ou menos 120 km de estrada perfeita, sem trânsito algum, com muitas curvas, poucas subidas, acompanhando um rio maravilhoso em todo seu trajeto.













Ao chegar a Abancay começa a subida da cordilheira novamente, e as temperaturas começam a cair. Em um trecho de 30 km, subi de 2600 m a mais de 4000m, e as montanhas cobertas de neve começaram a reaparecer e a ficarem cada vez mais próximas.













Em um ponto do caminho, vi um cruzamento com uma plaquinha que dizia: CACHORA. Aí, lembrei-me das palavras do senhor no restaurante esta manhã e resolvi pedir informação a algumas pessoas que ali no cruzamento estavam a conversar. Confirmaram tudo o que já tinha ouvido e então resolvi tomar caminho até Cachora. Peguei uma estradinha de terra, cheia de cascalho, descendo a serra, onde a cordilheira e suas montanhas cheias de neve me enchiam a vista e me deixavam boquiaberto.












Quase chegando à Cachora, passei por um outro vilarejozinho, onde um mochileiro estava em pé, em uma esquina. Parei e acabei descobrindo que ele trabalhava para o governo do Peru, em desenvolvimento turístico, especificamente para a região de Choquequirao. Ele me passou algumas informações, inclusive que meu pneu traseiro estava vazando ar!!! Putz… naquele minuto mesmo havia entrado um prego de uns 10 cm no meu pneu novinho!!! Tirei as ferramentas de minha bagagem e em uns 10 minutinhos já havia tirado o dito cujo ( o prego) e arrumado o vazamento. Assim que terminei, saiu uma tropa de crianças de um colégio e logo me rodearam. Pareciam formiga em pote de mel, brincando, sorrindo, perguntando etc… E, quando disse que queria tirar uma foto deles …putz, que loucura!












O plano inicial era pôr a máquina no tripé e tirar uma foto COM eles, mas, o entusiasmo era tanto que eu mal consegui que eles ficassem a três metros de mim para que pegasse todos na foto! Hahaha, eu dizia: Fiquem aí, não se movam!! Eu dava dois passos pra trás, e eles, dois pra frente. Tentei falar novamente; dei mais dois passos para trás, e eles mais três à frente… estavam grudados em mim, até que consegui meio que correndo dar uns cinco passos atrás e tirar uma fotinho ‘mais ou menos” e, um segundo depois, já estavam todos ao meu redor. Nem consegui tirar a foto com eles, como eu queria.





















Segui em direção a Cachora, um vilarejo pequeniníssimo, ao pé do NEVADO (LINDO!), onde cavalos, mulas, vacas, cachorros e somente NATIVOS ocupavam as ruinhas: só eu de turista! Achei um hotelzinho e daqui me encaminharam tudo para a jornada de amanhã.














Já com o guia, fizemos uma lista das coisas que precisaríamos: comprei tudo para alimentação minha e do guia por quatro dias. Depois, dei uma caminhada pela cidade e, ao entrar numa vendinha, vi uma ovelha, que se chama “Jorge”. Sim, isso mesmo, um bichinho de estimação que anda livre pela rua e dentro das casinhas e vendas da cidade!


Seu Jorge...















Ele acha que é o irmão dele
Amanhã cedo, eu, o guia e um cavalo que levará nossos mantimentos, sairemos daqui cedinho, dormiremos no meio do caminho e somente no outro dia alcançaremos as ruínas. Bom, isso conto com mais detalhes depois. Dei uma ligadinha pra casa, rapidinho pra dizer que não vou poder dar sinal de vida por uns cinco dias, e que era pra tchurma não se preocupar. Ao retornar, no domingo, vou para Cusco onde reencontrarei meus colegas ingleses.
Boa noite!!! Tenho que dormir porque amanhã vou caminhar demais! Fui!