domingo, 13 de maio de 2007

De 9 a 13 de maio


Gracinha















Chokeq’iraw, 9 a 13 de Maio de 2007


Olá a todos! Aqui quem vos fala é um caco de homem. Hoje é dia 13 de maio, e acabei de retornar de uma jornada inacreditável e, movido a uma sopa caseira, feita por mim mesmo, aqui no Hotel que mais tem cara de casa de família em Minas, mais 1200mg de Ibuprofeno, tento escrever. Como diria minha amiga Patricia (VENHA-VENHA!), lá de Boston, uma sergipana porreta:


“Pensem vocês em um homem acabado, pensem no Bruninho!”

Paty, ti amu e to com saudades, mas você não me escreve, sua doidinha! Beiju pra ti e pro Des também!

Quando, na quarta-feira passada, estava aqui no hotel organizando tudo, junto com o rapazinho do hotel e meu guia, o Jiver, não fazia nem idéia das implicações da minha decisão de fazer esse hike até Choquequirao ou Chokeq’iraw. (Relembrando: trata-se de uma cidade Inca descoberta no inicio dos anos 20 e que, até 1996, não era Parque Nacional e o acesso aos turistas ainda não era regularizado. E até hoje ainda não recebe muitos visitantes e vocês vão entender o porquê.) Essa jornada, um verdadeiro “Programa de Índio”, veio a ser o maior desafio físico de minha existência (e olha que eu gosto de exercícios físicos e não costumo reclamar de nenhuma atividade do gênero) e, conseqüentemente, tornou-se um desafio mental inacreditável.

Quinta-feira, lá pelas 7:30 da matina, já estava saindo do meu quarto e o Raul me aguardava com um café-da-manhã reforçado, com ovos, queijo, pão, caldo de champignons e café. PS: Café aqui no Peru não é fresco e passado na hora, em nenhum lugar que estive no Peru (com exceção de Lima), café é só instantâneo ou um concentrado de café instantâneo, feito em uma jarrinha em que se mistura na xícara de água quente que lhe é trazido, seja lá de onde for.













O Jiver entra pedindo meu equipamento de camping pra amarrar no cavalo e acaba sentando pra comer algo também. Chomp, chomp, chomp… engole tudo e nos vamos. Ao iniciar nossa caminhada morro abaixo, em direção a Serra Nevada, estava encantado com o ambiente da cidade. Os nativos caminhavam em passos lentos, levando todo tipo de alimentos em sacos imensos, e todas as mulheres, invariavelmente, levavam em suas costas uma manta onde traziam suas crias, as crianças mais fofas que se pode imaginar.































Olha a vista dessa praça...



























Não pude deixar de me lembrar de São Tiago, 25 anos atrás. Como lá, galinhas e cachorros entre outros animais andavam livremente pelas ruas e o cheiro de lenha queimando me trouxe lembranças mais que agradáveis! Lembrei-me dos bons tempos, quando a vovó Alva ainda estava viva e tratava os netos como verdadeiros príncipes! Saudades d’ocê, vozinha!

Munido de minha máquina, saí logo tirando fotos de tudo e todos. Os primeiros 10 km foram uma beleza, o clima fresco tornava a caminhada agradabilíssima. Logo ao sair da cidade (300 m depois), cruzamos campos de milho onde dezenas de pessoas já pegavam no batente e os inúmeros cavalos comiam tudo que lhes convinha.













Chegamos a uma trilha lá embaixo no vale, e começamos a subir, de leve: sobe, desce, sobe mais, riachos, cascatas, casebres … o cheiro de mato, ervas frescas (não a danada!), e flores era quase overwhelming (me desculpem não achei a palavra em português). Continuamos e encontramos uma estradinha de terra que subia até o primeiro mirante. Até então, tudo tranqüilo... No caminho, avistamos o que é considerado o maior canyon da America Latina e, 10 km depois, chegamos ao dito início de nosso caminho!!! Puta merda, chegamos à beira de um verdadeiro abismo! Era tão grandioso e fundo que, após analisar as fotografias, conclui que elas não fazem juz ao tamanho verdadeiro da bagaça!




















Então, Jiver me aponta o dedo lá pra PQP e diz: Ta vendo aquele marronzinho lá naquela montanha? (Ahhhh? Procurei, procurei e lá na casa do caralho avistei um tracinho marron, no alto de uma montanha que parecia estar a anos luz. “ Lá é Chokeq’iraw”, disse ele. Olhei pra baixo, olhei pra cima, para onde ele havia apontado e perguntei: Como mesmo vamos chegar lá? E ele me aponta uns risquinhos na montanha, em forma de ZigZag, dizendo ser o caminho…Waw! Havia um grupo de três franceses que estavam ali, de retorno, e a única coisa que me disseram foi: “Good luck to you”. Xiiii, onde foi que amarrei minha égua? Bom, pensei, já que caminhei 10 km, o que são mais 24 km? Estou a 1/3 do caminho praticamente! Big, big, big mistake!!!O negócio é o seguinte: pelo fato de ser muito, mas muito, mas muito alto, o caminho não desce de uma só vez; desce, sobe, desce mais, sobe um pouquinho, desce um montão. É tão íngreme, tão íngreme que, ao chegar ao rio que lá embaixo passa, quase três horas depois, os músculos da coxa já estavam doloridos e a dor em ambos os joelhos era clara.














Primeiro Stop point

Paramos e Jiver cozinhou uma gororoba ( pra dar energia, vamos precisar, ele disse.). Comemos e descansamos um pouco, a dor nos joelhos não passava e comecei a me preocupar, principalmente porque, em todo meu currículo de esportes e atividades físicas, nunca tive problema algum com minhas “rodillas”.
Atravessamos a ponte de madeira e cabo de aço sobre o rio, que de cima parecia ser pequenino, mas que, de perto, era um turbilhão de águas rápidas e devia ter uns 100m de margem a margem. Se a ponte se quebrasse, só iriam nos achar a muitos km de distância. Perguntei a ele até onde iríamos; “Santa Rosa, creo que llegamos en dos horas e media, o tres horas”. Não preciso nem dizer que daí pra frente foi só subida, aliás, quase uma escalada! Uma hora depois comecei a sentir câimbras, e logo, logo minhas duas pernas travaram ao mesmo tempo. Jiver estava a uns 300m a frente, mas, como o caminho era em ZIGZAG e super íngrime, não foi possível que me avistasse de forma alguma! Tentei gritar e nada de resposta, nada... novamente e nada… pensei: Putz, será que minha historia vai virar episódio daquele programa da Discovery Chanel “I Shouldn’t be alive?” OBS – Em Português se chama “Sobrevivi”. Que nada!!! Mais cedo ou mais tarde meu guia dará falta de mim e me acha. Ali me sentei e tentei alongar um pouquinho, tirei duas bananas e uma barra de chocolate que tinha na mochila e mandei pra dentro. Em mais uns 15 minutos depois, escuto Jiver me gritando de um cotovelo onde conseguia me avistar : “Que passa, mano? Estas bien?” Disse que ia descer e eu recusei; minhas coxas estavam um pouco melhores e resolvi encarar mais uma hora e meia de subida que me restavam até Santa Rosa.




Mirante

















Era isso ou baixar uma hora e meia até o Rio, e meus joelhos doíam tanto que agüentar a subida e as câimbras me pareceram a decisão mais sábia. Fui indo com os músculos travando a cada meia dúzia de passos que pareciam não me levar a lugar nenhum, mas que eventualmente me levaram ao encontro ao meu guia. Ele então me seguiu até a chegada a Santa Rosa, uma hora depois, sempre me encorajando e nunca me deixou desistir entre as paradas reservadas para as câimbras. Embora fosse quase fim de tarde, o clima frio da montanha não parecia refrescar, já não tinha mais minha jaqueta, meu gorro nem calças (Mulherada, não se empolgue, usava duas, viu?) Detalhe, uma camisa de manga cumprida e chapéu são indispensáveis o tempo todo por causa do número imenso de mosquitos e pernilongos, de todos os tipos e tamanhos, que querem um pedacinho de você.




Santa Rosa
Pop. 2 Hab.








Muitas câimbras depois, alcançamos Santa Rosa, uma “comunidade” de dois (2?) habitantes…hãhã, isso mesmo, tem até plaquinha anunciando! Somente dois habitantes, o Ricardo (acho que era esse mesmo o nome do rapaz, pois, eu estava muito cansado e com muita dor pra prestar atenção em detalhes como esse) e seu pai. Só um casebrezinho e uma taperinha de bambu onde o Ricardo vendia chocolates, refrigerantes, cerveja e outras cositas mais (tudo quente, é claro, não tem eletricidade) e um radinho a pilha que, sintonizado à única rádio da região, a rádio municipal de Cachora, tocava músicas folclóricas em espanhol e na língua local, o QUECHUA.




Jiver e Ricardo















Seu pai chegou mais tarde com um TUFO de cana do tamanho de um carro e não deu muita bola pra nós não. Eles produzem caldo de cana e uma pinguinha também (só bebendo mesmo pra viver ali...). O Ricardo tem problema em uma das pernas e anda com uma bengala, provavelmente de subir e descer essa cordilheira maluca. Perguntei a ele se ia muito a “cidade” e ele me disse que a cada quatro ou cinco meses. “Me gusta la vida sensilla!” ; e põe sensilla nisso: (Sensilla=Simples) sem luz, sem chuveiro, sem privada, sem MULHER, o caboclinho tem que ser bom de… deixa pra lá! Hehehe.

Enquanto eu tentava esquecer a dor no joelho e nos músculos, enquanto Jiver acendia o fogo pra fazer o rango. Já escurecia e o silêncio do local era absoluto. Antes de se retirar, Ricardo me trouxe uma pomada de alguma-coisa-que-não-sei-o- quê, mas que sei que continha folhas de coca, pra eu passar nas pernas quando fosse me deitar, e se foi. Tomei um banho “cheko” na bica gelada, lavando só o essencial... O rango tava uma beleza; franguinho frito, arroz branco e tomate! Após o jantar, um chazinho de coca bem quente pra poder ir dormir! Isso mesmo, já vinha eu o dia todo tomando chá de coca! Não dá barato nenhum, podem ficar despreocupados; somente dá mais energia e tira a fome. É muito gostoso, tem um cheiro e um gosto bem distintos e fortes. Parece um chá de camomila melhorado, quando sem açúcar, e também com garapa, quando adoçado.

O cheiro da mata aqui é inacreditável: alecrim, anis selvagem e milhares de outras flores, que perfumam todo o ambiente. Mas, o que mais me impressionou foi o CÉU... Inacreditável! Essa é a única palavra que achei pra descrevê-lo. Só me dei conta dele quando apagamos a fogueira e me retirei para a minha barraca, e ali fiquei, pela tela, admirando aquela imensidão de estrelas, as quais estou certo de nunca ter avistado em toda minha vida, nem mesmo em São Tiago! Nesse momento me passaram milhares de coisas pela mente: solidão, saudades diversas, pessoas das quais sentia falta... porém, ao mesmo tempo, um sentimento de PAZ inacreditável e indescritível. Quase..., quase entendi porque alguém podia viver em um lugar tão distante e diferente do mundo lá fora. Esqueci-me das dores do corpo e, às 8 da noite já estava dormindo ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ.

Cinco e meia da matina já escutava o Jiver caminhando pra lá e pra cá, acendendo o fogo pra fazer o desayuno. Eu me levantei e as dores do joelho pareciam ter melhorado um pouco, mas os músculos ainda me doíam muito! Comemos bem e empacotei tudo que tinha e saí na frente de meu guia que ainda tinha que amarrar tudo no cavalo antes de partirmos. Fui “adelantando”, mesmo porque sabia que meu ritmo não seria dos mais rápidos. Sobe, sobe, e sobe mais um montão! Uma hora depois Jiver me alcança e pergunta se estou bem. Tudo OK! Tirando as dores, é claro! Mas, não havia nada que podia fazer a não ser engolir e prosseguir viagem. Ah, meus antiinflamatórios, os que deixei no hotel estavam fazendo uma falllllta!!!! E o ar mais rarefeito não contribuía muito para recuperar o fôlego!
































Depois de umas quatro horas, Jiver me diz: Só faltam umas sete curvas pra chegarmos a MARAMPATA. Trinta minutos depois chegamos a essa comunidadezinha de umas cinco casinhas, todas de membros da mesma família. Aliás, a família de Raul, o rapazinho do hotel. Montamos acampamento ao lado da casa do Sr. Antonio e de Muriel; respectivamente Pai e irmão de Raul, fizemos um lanchinho pro caminho até Chokeq’iraw- que estava ainda a duas horas de caminhada, entre subidas e descidas um pouco mais leves.








Ali, na
PQP...







Quase lá





























Seguimos caminhando, e percebi que meu joelho direito não estava nada bem, mas, o esquerdo, por milagre, estava muito bem. Nesse ponto sentia dores em músculos na perna que nem mesmo sabia que existiam, mas, como havia passado por tanto, estava decidido a chegar ao meu destino, não importava o que acontecesse. Ao nos aproximarmos dos portões da cidade, avistamos várias construções que estavam escondidas pelo mato e árvores, inacessíveis para visitação. Foi só então que descobri que Chokeq’iraw era muito mais extenso que Machu Pichu, porém, mais de ¾ ainda não foi limpo e restaurado.

Parte agrícola andina de Chokeq’iraw













Ao entramos pela “porteira” de entrada do parque, havia várias trilhas que levavam a diferentes partes da cidade, (algumas por mais de uma hora de caminhada!) e uma que levava a Machu Pichu. “Podemos caminhar mais sete dias e chegamos lá”, Jiver! Hahaha, nem pensar! Tem louco pra tudo, né? Enquanto o Jiver se ajeitou em uma sombrinha na praça central da cidade, eu resolvi ir tirar umas fotos lá do mirante, um bocado pra cima ainda.









































































Chegando lá, eu me sentei na muretinha e fiquei apreciando a paisagem, especialmente uma cahoeira que, de seu ápice até o rio, lá embaixo, tem mais de 1.400 metros de altura. Breathtaking!!! O Jiver me informou que, do outro lado do canyon, havia uma outra cidade chamada Incamapata (????)(ou algo assim, não consigo guardar todos os nomes) e que os habitantes se comunicavam por fumaça! Imagina só: viver aqui há centenas de anos? Tinham mesmo que achar o que fazer, nem que fosse sinal de fumaça! Hahaha!


















































Quase uma hora depois resolvi descer pra comer algo e seguir caminho de volta a Marampata porque a caminhada não era fácil. Foi então que me dei conta do tamanho do buraco que havia cavado e compreendi a extensão da minha lesão no joelho direito. Talvez seja problema de DNA (Data de Nascimento Antiga) hehehe! Afinal, ali era exatamente metade do caminho! Ao dar os primeiros passos para baixo, a dor no meu joelho direito era indescritível e logo no terceiro passo ele me falhou e o desloquei, deleve....AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! Pra quem não notou, esse foi meu grito de dor! Caí que nem uma jaca e por ali fiquei quase 10 minutos antes que conseguisse respirar fundo e me levantar com a perna meio que torta. Engoli seco e juntei com toda a força que conseguia aplicar, com meus músculos doloridos. Clack!!! Entrou no lugar novamente e a dor foi tão grande que nem gritar eu conseguia! Saí arrastando a perna. Na metade do caminho entre o mirante e a plaza central, encontrei o Jiver que vinha ao meu encontro pra saber o que se passava. Ajudou a chegar até a sombra onde estavam nossas tralhas e lá comemos e ficamos por quase uma hora, até que eu conseguisse levantar. PS: Sé estávamos nós e o porteiro na cidade toda! Descolei uma bengala improvisada e, arrastando a perna, segui caminho de volta a Marampata. Pedi ao Jiver que fosse à frente para que eu pudesse colocar meu próprio ritmo, sem ter que me preocupar se estava indo rápido o suficiente! Fui de bengala e arrastando a perna direita todo o tempo e, a cada poucos metros, me apoiava de alguma forma – nunca muito boa - e os grunhidos de dor saíam cada vez com muito mais freqüência. E olha que geralmente não dou muita bola pra dor não, quem me conhece sabe. Mas, já havia estourado meu limiar de tolerância muito tempo atrás.

O Jiver foi muito bacana e a cada 15 ou 20 minutos encontrava-o parado, esperando pra saber se estava tudo bem. Aí, caminhava um pouco mais. Assim fomos até Marampata e, chegando lá, nós nos sentamos na cozinha do Sr. Antonio e tomei a melhor cerveja quente da minha vida!!!



















Enquanto Muriel cozinhava um caldo de galinha caipira, seu pai ia buscar umas ervas pra fazer um ungüento pro meu joelho. Putz, comi que nem um louco e fui me deitar ao sol, na grama,ao lado da minha barraca; esfriou e saltei pra dentro.















Lá pelas 6:30, o Jiver me acorda pra jantar: galinha caipira, pamonha, arrozinho, tomate e mandioca!!!! Putz, que beleza! Meu joelho doía mas não mais de forma insuportável. Comi, escovei os dentes e às 7:30 estava dormindo (meu record!). Surpreendentemente, tive uma ótima noite!Na noite anterior, Muriel saiu pra tentar arrumar um cavalo pra me levar de volta. No início dessa viagem tive a opção de ir de mula, mas, por dó das bichinhas, resolvi ir caminhando mesmo (se eu soubesse!!!!!!).





















Muriel e suas penosas
Muriel chegou pela manhã, no dia seguinte, e me informou que todos os cavalos da comunidade estavam em trânsito; teria que caminhar mesmo! Putz!!! Tomei café e fui adelantando, arrastando a perna direita, usando agora uma segunda bengala pra tirar um pouco mais de pressão dos meus passos naquela baixada sem fim! Pedi ao Jiver que não caminhasse comigo e que me seguisse, talvez uma hora depois.
A cada 20 metros um grunhido de dor e milhões de coisas passando por minha cabeça; a frustração me acompanhando a cada passo dolorido do caminho. De vez em quando descontava minha raiva xingando todos os tipos de FUCKS possíveis e imagináveis. Até sobrou para os cactus que encontrava no caminho, golpeando-os com minhas bengalas. Os mosquitos tentavam me comer vivo e, por isso, não colaboravam pro meu bem-estar. Peguei um ritmo, engolindo a dor, pensando que uma hora ou outra meus receptores de dor se estressariam e atingiriam um nível de dor mais crônico e aceitável! Dito e feito, meio que anestesiado pela própria dor, consegui ir descendo os nove quilômetros de baixada até o rio, onde, só então, fui alcançado pelo meu guia.
No caminho, encontrei dois turistas: um americano, o Scott, e um peruano, o Fernando, que estavam sendo resgatados por cavalos que seu guia havia descolado. Sonhei com um “cavalito” mas ficou só no sonho. Chegando lá embaixo, na ponte, tomei uma água, sentei por uns 10 minutinhos e logo segui viagem, não queria esfriar muito e segui rumo ao acampamento onde iríamos passar a noite, uns 4 km acima... ainda... O sol estava pegando mas, não podia me livrar das roupas por causa dos mosquitos e mesmo do sol. Quase tive um piripaque, mas, finalmente alcancei o acampamento. Lá, entrei embaixo de uma bica de água e esfriei o corpo por quase meia hora! Esqueci de mencionar que, ao sair de Marampata, encontrei um casal de ingleses que estava subindo a Chokeq’iraw e que ainda iriam enfrentar a trilha ate Machu Pichu. Eles me deram meia dúzia de antiinflamatórios que, com certeza, auxiliaram minha descida.Depois de jantar, eu me deitei na barraca e mais uma vez fiquei observando o céu e pensando na vida pra esquecer a dor. Assim, às 6:45 já estava dormindo (novo record!). No dia seguinte, despertamos às 5 da matina, porque os 7 km de subida não eram nada fáceis e tínhamos que percorrer a maior parte desse caminho, antes que o sol fritasse nossas moleiras. Mais uma vez, engoli em seco e me pus a caminhar, arrastando a perna e com as duas bengalas que haviam enchido minhas mãos de bolhas. Lá pro meio-dia alcancei o primeiro mirante, o ponto mais alto da subida! Ainda havia 10 km até Cachora, mas uma sensação de alívio e ACOMPLISHMENT tomaram conta de mim e me senti bem melhor. Depois de cinco minutos de descanso e um papinho com um casal de turistas belgas que iniciava sua jornada, me mandei em um ritmo alucinante, mirando a cidade que ainda estava a 10 km, mas que, pra mim, não parecia muito longe devido ao terreno não ter mais extremos de subida ou descida. Jiver ficou pra trás e só me alcançou na esquina do Hotel, onde me sentei e tomei quase três litros d´água. Fiquei sentado à mesa por quase uma hora, antes de conseguir me levantar pra tomar meu primeiro banho em quatro dias!!! Isso mesmo, nos últimos dias, só banho “cheko” de água muiiiito fria. Surpreendentemente, não tava muito fedido, provavelmente por me lavar com água de Alecrim do mato, mas, mesmo assim, tenho certeza de que nenhuma gata se aproximaria de mim em tais condições! HeheheUma hora de banho e saí pra comer e usar a Internet.
Cachorra em
"Cachorra"
Isso mesmo, nessa vilazinha aqui tem um lugarzinho que tem internet! Devagar, quase parando, consegui falar com meu maninho Samukha que se conectou ao MSN, depois de uma chamada telefônica da Paty Mello, maninha do Potro. Valeu mesmo, Paty!!! Mandei recado de Feliz dia das Mães pra minha veinha (Que provavelmente não o recebeu...) e retornei ao hotel pra tirar uma soneca. O problema e que não conseguia dormir nem por nada; levantei e fui pôr minha roupa (nojenta!) pra lavar e dei um banho na minha moto. Aí sim, consegui tirar uma soneca! Acordei há umas duas horas e resolvi pôr tudo por escrito. Estava um pouco ansioso pra dividir com vocês essa experiência extrema pela qual passei nos últimos quatro dias. Tenho certeza de que - se tiveram paciência de ler tudo - todas as reclamações, no final das contas, valeram como experiência de vida. Acho até que o manezinho do grupo RAPPA já fez essa viagem: “ Se meus joelhos não doessem mais!!!”... Valeu a pena, eh eh, valeu a pena! Boa noite a todos e mais que nunca: saudadessssssssssssssssssssssssss!!!!